Deiscência bilateral do canal semi-circular superior - Causa rara de desequilíbrio e acufeno pulsátil

Autores

  • Patrícia Melo Assistente Hospitalar, Serviço de Otorrinolaringologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Hospital de S. José, Portugal
  • Luís Marques Pinto Chefe de Serviço, Serviço de Otorrinolaringologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Hospital de S. José, Portugal
  • Cecília Elias Interna do Internato Complementar, Serviço de Otorrinolaringologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Hospital de S. José, Portugal
  • Ezequiel Barros Chefe de Serviço, Coordenador do Serviço de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Hospital de S. José, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.34631/sporl.78

Palavras-chave:

deiscência do canal semi-circular superior, autofonia, oscilópsia, desequilíbrio, potenciais miogénicos vestibulares evocados, diagnóstico, terapêutica

Resumo

Introdução: A síndrome da deiscência do canal semi-circular superior (SDCSS) é uma entidade clínica recentemente reconhecida, inicialmente descrita por Minor et al. em 1998. O mecanismo fisiopatológico subjacente relaciona-se com a existência de uma deiscência óssea do canal semi-circular superior ao nível da fossa média criando uma “terceira janela” que produz uma via de menor resistência, favorecendo a dissipação da energia acústica através do labirinto vestibular e alterando a dinâmica da endolinfa no canal semi-circular superior. As manifestações clínicas podem ser muito variadas. Os sintomas mais frequentes são: vertigem ou oscilópsia induzidas por sons intensos (fenómeno de Tullio) ou variações de pressão, desequilíbrio, hipoacúsia, autofonia ou acufeno. O sinal mais típico caracteriza-se por um nistagmo verticotorsional induzido por sons intensos ou variações de pressão.

Material e métodos: Os autores apresentam um caso clínico de deiscência bilateral do canal semi-circular superior, manifestada por desequilíbrio e acufeno pulsátil e demonstram a utilidade da pesquisa do Potencial miogénico vestibular evocado (PMVE) no diagnóstico desta entidade frequentemente sub-diagnosticada.

Resultados: O diagnóstico é essencialmente clínico e corroborado pelos exames audiométricos e vestibulares (surdez de condução ou mista com diminuição do limiar de condução óssea nas frequências graves e reflexos estapédicos presentes). O teste vestibular mais específico para o diagnóstico do SDCSS consiste na pesquisa do PMVE cujos limiares se encontram tipicamente diminuídos e com amplitude aumentada. A confirmação diagnóstica é feita por com Tomografia computorizada de alta resolução. Na maioria dos casos a terapêutica é conservadora com evicção dos estímulos desencadeantes. A terapêutica cirúrgica tem indicação nos doentes com sintomas graves e incapacitantes.

Conclusões: A SDCSS é uma entidade relativamente rara e possivelmente sub-diagnosticada. Nem todos os doentes apresentam um quadro clínico típico, sendo necessário um elevado grau de suspeição assim como observação clínica e avaliação audiométrica rigorosas. A pesquisa do Potencial miogénico vestibular evocado é um teste recentemente descrito e que se tem revelado muito útil no diagnóstico destes doentes.

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Como Citar

Melo, P., Pinto, L. M., Elias, C., & Barros, E. (2012). Deiscência bilateral do canal semi-circular superior - Causa rara de desequilíbrio e acufeno pulsátil. Revista Portuguesa De Otorrinolaringologia-Cirurgia De Cabeça E Pescoço, 50(4), 345–352. https://doi.org/10.34631/sporl.78

Edição

Secção

Caso Clínico