Margens cirúrgicas e prognóstico no tratamento do carcinoma da laringe com laser CO2

Autores

DOI:

https://doi.org/10.34631/sporl.3085

Palavras-chave:

Microcirurgia transoral com recurso a LASER CO2, Carcinoma glótico, Controlo local, Recidiva

Resumo

Introdução: O tratamento cirúrgico do carcinoma da laringe evoluiu nas últimas décadas para preservar a função do órgão sem comprometer a segurança oncológica. A microcirurgia transoral com laser CO2 (mTOL) tem sido amplamente adotada em estadios iniciais do carcinoma da laringe, devido à sua eficácia na resseção tumoral e preservação do órgão. Contudo, as margens de segurança mais estreitas comparativamente a técnicas abertas podem aumentar o risco de recidiva local, destacando a importância do seguimento rigoroso e da identificação de fatores prognósticos que influenciem o controlo local e a recidiva.

Objetivos: O estudo teve como objetivo identificar fatores prognósticos associados ao controlo local e à recidiva em doentes submetidos a mTOL para o tratamento do carcinoma da laringe.

Material e Métodos: Foram incluídos doentes com carcinoma glótico T1-T2 tratados entre 2013 e 2022. Avaliaram-se variáveis relacionadas com o doente (idade, sexo, comorbidades, biomarcadores), o tumor (extensão, estadiamento, envolvimento da comissura anterior) e o tratamento (margens cirúrgicas, necessidade de terapia adjuvante). O controlo local imediato (CLi) foi definido pela obtenção de margens negativas após mTOL. Considerou-se que houve controlo da doença (CL2) quando a mTOL, como única intervenção terapêutica, foi capaz de alcançar o controlo local, independentemente do número de procedimentos realizados, após um período de pelo menos dois anos desde o primeiro procedimento. A análise estatística incluiu testes univariados e regressão logística binária.

Resultados: Foram analisados 51 doentes (idade média: 64,2 anos), com taxas de CLi e CL2 de 52,9% e 82,4%, respetivamente, e uma taxa de preservação do órgão de 94,1% após dois anos. O CLi esteve significativamente associado a tumores em estádio inicial e sem envolvimento supra/subglótico, com p-valores de 0,005 e 0,033, respetivamente. No que diz respeito ao CL2, este apresentou uma associação significativa com um menor rácio plaqueta/linfócito, ausência de envolvimento da comissura anterior, tumores em estádio inicial e menor consumo de álcool, com p-valores de 0,049, 0,039, <0,001 e 0,039, respetivamente. A análise de regressão logística binária confirmou estas associações, destacando que o CLi foi significativamente associado a tumores em estádio inicial (OR: 8,68; IC 95%: 1,35–101,41; p = 0,047), enquanto o CL2 esteve relacionado tanto com tumores em estádio inicial (OR: 57,24; IC 95%: 4,13–793,09; p = 0,003) como com um rácio plaqueta/linfócito mais baixo (OR: 0,99; IC 95%: 0,99–0,999; p = 0,019).

Conclusões: A mTOL demonstrou ser eficaz e segura no tratamento do carcinoma da laringe, com elevadas taxas de controlo da doença e preservação do órgão. Fatores como o estadiamento tumoral e o rácio plaqueta/linfócito mostraram impacto significativo nos outcomes. A avaliação cuidadosa destes fatores pode otimizar o tratamento e o seguimento destes doentes.

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Publicado

13-09-2025

Como Citar

Gomes, P., Cabral, D. C., Penêda, J. F., Carção, A. A., Duarte, D., & Lopes, G. (2025). Margens cirúrgicas e prognóstico no tratamento do carcinoma da laringe com laser CO2. Revista Portuguesa De Otorrinolaringologia-Cirurgia De Cabeça E Pescoço, 63(3), 263–270. https://doi.org/10.34631/sporl.3085

Edição

Secção

Artigo Original