Discrepâncias entre o estadiamento clínico e patológico nos tumores da laringe: Avaliação das causas prováveis e influência na sobrevida global
DOI:
https://doi.org/10.34631/sporl.853Palavras-chave:
Carcinoma da laringe, EstadiamentoResumo
Introdução: o estadiamento TNM é fundamental para a decisão terapêutica, sendo também utilizado para estimar o prognóstico. O estadiamento clínico (cTNM) é baseado nos achados ao exame físico, exames endoscópicos, e exames imagiológicos. Por outro lado, o estadiamento patológico (pTNM) baseia-se na análise histopatológica das peças excisadas por cirurgia. Discordâncias importantes no estadiamento do carcinoma da laringe têm sido descritas na literatura, mas algumas controvérsias ainda se mantêm.
Métodos e metodologia: foi realizado um estudo retrospetivo dos doentes submetidos a cirurgia por carcinoma da laringe (CL) no hospital de Braga entre os anos de 2013 e 2017. Foram selecionados os doentes submetidos a laringectomia total (LT) ou laringectomia parcial (LP) associados a esvaziamento ganglionar cervical. Foram recolhidos os seguintes dados: idade, sexo, localização, cTNM e pTNM, tempo entre o primeiro diagnóstico histopatológico e o tratamento cirúrgico, sobrevida (SBV) global aos 5 anos, recidiva e óbito. Os doentes foram agrupados em estadios de acordo com os estadios definidos pela American Joint Committee on Cancer 8ª edição, 2017.
Resultados: dos 72 doentes diagnosticados com CL, 47 foram incluídos na análise. 17% (n=8) foram submetidos a LP; 83% (n=39) a LT. 66% mostraram um cTNM diferente do pTNM: um T diferente em 44,7%, com um coeficiente de concordância baixo, com um Kappa de Cohen de 0,310 (p = 0,01), e um N diferente em 29,8%, com um coeficiente de concordância substancial (Kappa de Cohen de 0,688, p < 0,001). A causa mais comum de subida do T foi a invasão do córtex externo da cartilagem tiróide, e a razão mais frequente de descida de T foi a aparente fixação da corda vocal na avaliação pré-operatória. A mediana de dias entre o diagnóstico e a cirurgia dos pacientes no qual o T subiu foi estatisticamente diferente (superior) dos restantes doentes. Os tumores que se localizavam na glote estevam associados a descida no T (p = 0,020). Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas nas curvas de sobrevida em doentes nos quais se verificaram diferença entre o cTNM e pTNM.
Discussão e conclusões: os nossos resultados mostram taxas de re-estadiamento um pouco superiores à literatura, as quais variam entre 20 e 55%. Novos métodos de avaliação, nomeadamente o uso de exames de imagem com maior acuidade diagnóstica e, por outro lado, a redução do tempo entre o diagnóstico inicial e o tratamento cirúrgico poderão ser importantes para reduzir as taxas de discordância entre o cTNM e pTNM. Apesar disso, e de acordo com os nossos resultados, o re-estadiamento não parece estar associado a piores taxas de sobrevida.
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