Eficácia do protocolo IMPETUS em doentes com acufenos crónicos: estudo randomizado e controlado
DOI:
https://doi.org/10.34631/sporl.269Palavras-chave:
acufenos, tratamento, TRT, medicina psicossomática, randomizado, controladoResumo
Introdução: Os acufenos são um sintoma major na consulta de ORL com uma prevalência estimada na população geral de 10 a 15%. Em cerca de 20% destes doentes, os acufenos têm um impacto significativo nas suas vidas com interferência nas actividades diárias a nível pessoal, profissional e social, levando-os a procurar aconselhamento médico. Uma avaliação psicossomática destes doentes não é prática corrente, uma vez que a evidência científica disponível, até ao momento, não sustenta de modo irrefutável a eficácia desta intervenção.
Hipótese: Os doentes que sofrem de acufenos crónicos, com impacto relevante na qualidade de vida, beneficiam de uma abordagem integrada que inclua uma avaliação psicossomática (Protocolo IMPETUS), em comparação com a intervenção habitual (consulta exclusiva de ORL).
Material e Métodos: Aplicou-se a versão portuguesa do Mini- TQ (Mini-TQ-pv) e a avaliação da intensidade dos acufenos com uma Escala Visual Analógica (VAS), de 0 a 10, a todos os pacientes com queixas de acufenos crónicos {> 6 meses) que recorreram à Consulta de Acufenos. Os doentes com score no Mini-TQ-pv superior a 7/24 foram divididos aleatoriamente em 2 grupos: um grupo de doentes foi referenciado à Consulta de Medicina Psicossomática e depois reavaliado por ORL e o outro grupo recebeu apenas o tratamento habitual da Consulta de Acufenos de ORL. Para comparação de variáveis quantitativas no mesmo subgrupo da amostra usou-se o teste não paramétrico de Wilcoxon.
Resultados: A população estudada consistiu em 55 indivíduos, 21 do sexo masculino e 34 do sexo feminino, com uma média de idades de 62,18 anos (38 a 82 anos), e scores iniciais de Mini-TQ de 14,65±5,595 e VAS de 5,93±1,730.
Verificou-se uma diminuição do score do Mini-TQ (16,74±4,703 para 14,07±5,158) e da intensidade dos acufenos em VAS (6,15±1,791 para 5,37±1,690) estatisticamente significativa (p<0,001 e p=0,017, respectivamente) para o grupo de doentes que fez tratamento integrado de ORL e Medicina Psicossomática. Nos outros grupos estudados, as alterações verificadas não obtiveram significância estatística.
Conclusão: O estudo realizado demonstra que o tratamento dos acufenos, quando realizado em conjunto e de forma integrada, por ORL e Medicina Psicossomática, é mais eficaz na redução da percepção subjectiva da intensidade dos acufenos e do seu impacto na qualidade de vida.
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