Carcinoma Pavimento-celular da orofaringe na Madeira 2009-2019: Análise da sobrevivência a 5 anos e factores prognóstico
DOI:
https://doi.org/10.34631/sporl.1042Palavras-chave:
Carcinoma pavimento-celular da orofaringe, Estadiamento, Taxa de sobrevivência, Tratamento cirúrgico, Tratamento adjuvante, Tratamento médico isoladoResumo
Introdução: Os carcinomas pavimento-celulares (CPC) da orofaringe tiveram uma incidência global anual de 98 412, tendo sido registados 48 143 óbitos, em 2020. O prognóstico é variável, sendo que o reconhecimento dos fatores com impacto na sobrevida dos doentes é fulcral na seleção do melhor esquema terapêutico.
Objectivos: Realizar uma análise da sobrevivência e investigar o impacto das diferentes variáveis clínicas no prognóstico dos doentes diagnosticados com CPC da orofaringe.
Materiais e Métodos: Estudo retrospectivo entre 2009-2019 num centro terciário (Hospital Central do Funchal, SESARAM). Os dados categóricos foram analisados usando o teste chi-quadrado. As curvas de sobrevivência foram estimadas usando o método de Kaplan-Meier. O modelo de regressão da Cox foi aplicado para avaliar o efeito das variáveis clínicas na sobrevivência (idade, género, consumo de álcool e tabaco, localização tumoral, estadio e tipo de tratamento). Os doentes paliativos (n=24) foram excluídos da análise da sobrevivência. Não foi possível obter o status HPV, na larga maioria dos doentes.
Resultados: Foram analisados os casos de 180 doentes diagnosticados com CPC da orofaringe. A média de idades da amostra foi 56,00±10,436 anos e 91,9% dos doentes eram homens. 76,6% dos doentes consumia álcool e/ou tabaco. 88,4% dos doentes foram diagnosticados em estadios avançados, correspondendo a estadio IV 71,7% dos casos. As únicas variáveis com impacto estatisticamente significativo no prognóstico dos doentes foram o estadiamento (p=0,018) e o tipo de tratamento (p<0,0001). Os doentes em estadio I apresentaram uma taxa de sobrevivência (TS) global a 5 anos de 56,3% enquanto que os doentes em estadio IV (IVa, IVb, IVc) tiveram TS mais baixas (30,6%).
A cirurgia isolada teve uma TS global de 46,7% seguida pela cirurgia associada a radioterapia (37,5%) e pela quimioradioterapia. (15,4%).
Entre todas as variáveis incluídas no modelo de regressão de Cox, verificou-se que o tipo de tratamento foi a única variável com impacto no prognóstico dos doentes: doentes submetidos a tratamento cirúrgico associado ou não a tratamento médico tinham um risco de morte 1,85x menor que doentes submetidos a tratamento médico isolado (p=0,017).
Conclusões: Verificou-se que o estadiamento e o tipo de tratamento tiveram impacto no prognóstico dos doentes, independentemente das outras variáveis, à semelhança de outros estudos publicados. A análise multivariável revelou ainda, que o tratamento médico exclusivo associou-se a piores resultados em termos de sobrevivência quando comparado com o grupo do tratamento cirúrgico +/- a tratamento médico.
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