Sucesso cirúrgico da reparação de fístulas de LCR da base anterior do crânio por via endoscópica

Autores

  • Joana Guincho Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental, Portugal https://orcid.org/0009-0006-4630-831X
  • Luís Baptista Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental, Portugal
  • Filipe Correia Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental, Portugal
  • Rui Cabral Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental, Portugal
  • Pedro Escada Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental, Portugal https://orcid.org/0000-0002-5898-946X

DOI:

https://doi.org/10.34631/sporl.2185

Palavras-chave:

Fístula de LCR, underlay, overlay, retalho nasosseptal, retalho livre de mucosa

Resumo

Introdução: As fístulas de líquido cefalorraquidiano (LCR) são comunicações anormais entre o espaço subaracnóideu e a cavidade nasal e podem ser classificadas em espontâneas e traumáticas (incluindo as fístulas iatrogénicas). Várias técnicas e materiais têm sido descritos na reparação endoscópica de fístulas de LCR. No entanto, a técnica endoscópica de eleição continua a ser um tema amplamente debatido.

Objetivo: Apresentar a experiência de um centro terciário na reparação fístulas de LCR da base anterior do crânio. 

Métodos: Estudo retrospetivo realizado num hospital terciário, entre janeiro de 2012 e dezembro de 2023.

Foram incluídos todos os doentes submetidos a reparação endoscópica de fístulas de LCR da base anterior do crânio. Foram recolhidos dados demográficos, sintomas, exames de diagnósticos e fatores intraoperatórios. Foi realizada análise estatística descritiva e analítica.

Resultados: Vinte e nove doentes (19 mulheres, idade média de 59,6±13 anos) com 30 fístulas de LCR foram incluídos. A etiologia mais comum foi a espontânea, responsável por 59% de todas as fístulas de LCR, seguida da iatrogénica (31%) e da traumática (10%). Sete doentes com fístula de LCR espontânea eram obesos, sendo que um deles apresentava estigmas de hipertensão intracraniana idiopática. As fístulas de LCR espontâneas foram mais frequentemente localizadas na lâmina crivosa e na lamela lateral. A lamela lateral foi o local mais frequentemente envolvido nas fístulas de LCR iatrogénicas. O tamanho médio do defeito foi de 5,8±7,4 mm. A drenagem lombar foi colocada em 12 doentes antes da cirurgia. Utilizamos a técnica under-overlay em 63% dos casos, overlay em 33% e em 3% (um caso) utilizamos uma abordagem combinada (endocraniana e endonasal). A técnica foi escolhida de acordo com a etiologia e tamanho do defeito, e preferência do cirurgião. Na técnica under-overlay, os materiais mais utilizados foram a duragen® underlay e retalhos livres de mucosa overlay selados com cola de fibrina.

Quanto à técnica overlay, utilizamos retalhos livres de mucosa na maioria dos casos, Surgicel® e cola de fibrina. A média do número de camadas por doente foi de 3,9±1,2.

As fístulas de LCR da lâmina crivosa foram frequentemente encerradas por técnica exclusivamente overlay, pela incapacidade de disseção dural sem aumentar significativamente o tamanho do defeito ósseo. Não ocorreram complicações pós-operatórias. A taxa de sucesso foi de 90%. Houve necessidade de re-intervenção em apenas um caso.

Conclusão: A reparação de fístulas de LCR por via endoscópica é uma técnica segura e eficaz. A alta taxa de sucesso observada no nosso estudo revela que a técnica cirúrgica utilizada deve ser decidida de acordo com a etiologia, tamanho e localização do defeito na base do crânio, sendo que nenhuma técnica se mostrou significativamente superior.

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Publicado

03-06-2025

Como Citar

Guincho, J., Baptista, L., Correia, F., Cabral, R., & Escada, P. (2025). Sucesso cirúrgico da reparação de fístulas de LCR da base anterior do crânio por via endoscópica. Revista Portuguesa De Otorrinolaringologia-Cirurgia De Cabeça E Pescoço, 63(2), 127–133. https://doi.org/10.34631/sporl.2185

Edição

Secção

Artigo Original