Olfato e risco cardiovascular: uma ligação ainda por explorar

Autores

  • Carlota Sousa Unidade Local de Saúde Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal https://orcid.org/0009-0002-2905-1496
  • Joana Guincho Unidade Local de Saúde Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Luís Baptista Unidade Local de Saúde Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Filipe Correia Unidade Local de Saúde Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Mariana Donato Unidade Local de Saúde Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal
  • Prof. Pedro Escada Unidade Local de Saúde Lisboa Ocidental, Lisboa, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.34631/sporl.3114

Palavras-chave:

Olfato, doença cardiovascular

Resumo

Introdução: As doenças cardiovasculares (DCV) apresentam elevada prevalência na população, sobretudo nas faixas etárias mais avançadas. Estudos prévios associam comorbilidades como a dislipidemia, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca à perda de olfato. Contudo, os resultados são inconsistentes e a relação entre DCV e a disfunção olfativa permanece por esclarecer.

Objetivo: Avaliar a correlação entre perda de olfato, fatores de risco cardiovasculares (FRCV) e o risco cardiovascular (RCV) global.

Material e métodos: Estudo retrospetivo incluindo doentes com idade igual ou superior a 40 anos avaliados em consulta de Olfato, num centro terciário, entre 2016 e 2024. Foram avaliados os FRCV (sexo, idade, valores da tensão arterial sistólica, colesterol total e HDL, peso, altura, hábitos tabágicos e a presença de diabetes mellitus (DM)). O grau de perda do olfato foi quantificado através do teste de identificação Burghart Sniffin’ Sticks (0-16). O RCV foi calculado usando os índices SCORE2, SCORE2-OP (doentes com > 70 anos) e SCORE2-DM (doentes diabéticos). Foram realizados estudo caso-controlo e análise da correlação entre a pontuação na identificação e as restantes variáveis analisadas. O grupo controlo incluiu indivíduos emparelhados por idade e sexo, sem alterações subjetivas do olfato. A análise estatística foi feita utilizando o programa SPSS®️ 30.0 para MacOs.

Resultados: Foram incluídos 119 doentes (81 com alterações do olfato e 38 no grupo de controlo) com idade média de 61 ± 11 anos, 79 do sexo feminino e 16,8% diabéticos. O grupo de estudo apresentou uma identificação olfativa média de 8,4 ± 4 e um RCV médio de 7,7% ± 6%. O estudo caso-controlo demostrou que doentes com disfunção olfativa têm níveis de colesterol total significativamente mais elevados e uma maior tendência a sofrerem de DM (p = 0,054), ainda que não estatisticamente significativa. Quando aplicada a análise de subgrupos e excluindo os doentes com perda de olfato por patologia nasosinusal houve relação estatisticamente significativa entre a identificação e o RCV (p=0,031) e com colesterol total (p=0,044). Não foram encontradas outras associações estatisticamente significativas nas restantes variáveis avaliadas. 

Conclusão: Este é o primeiro estudo que explora a relação entre o RCV e as perturbações do olfato na população portuguesa. Este estudo sugere que existe uma associação entre a perda de olfato, um colesterol sérico elevado e um RCV aumentado.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Roh D, Lee DH, Kim SW, Kim SW, Kim BG, Kim DH. et al. The association between olfactory dysfunction and cardiovascular disease and its risk factors in middle-aged and older adults. Sci Rep. 2021 Jan 13;11(1):1248. doi: 10.1038/s41598-020-80943-5.

Wehling E, Naess H, Wollschlaeger D, Hofstad H, Bramerson A, Bende M. et al. Olfactory dysfunction in chronic stroke patients. BMC Neurol. 2015 Oct 12:15:199. doi: 10.1186/s12883-015-0463-5.

Chamberlin KW, Yuan Y, Li C, Luo Z, Reeves M, Kucharska-Newton A. et al. Olfactory impairment and the risk of major adverse cardiovascular outcomes in older adults. J Am Heart Assoc. 2024 Jun 18;13(12):e033320. doi: 10.1161/JAHA.123.033320.

Liu G, Zong G, Doty RL, Sun Q. Prevalence and risk factors of taste and smell impairment in a nationwide representative sample of the US population: a cross-sectional study. BMJ Open. 2016 Nov 9;6(11):e013246. doi: 10.1136/bmjopen-2016-013246.

Task Force Members, Piepoli MF, Hoes AW, Agewall S, Albus C, Brotons C. et al. 2016 European Guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice: The Sixth Joint Task Force of the European Society of Cardiology and Other Societies on Cardiovascular Disease Prevention in Clinical Practice (constituted by representatives of 10 societies and by invited experts): Developed with the special contribution of the European Association for Cardiovascular Prevention & Rehabilitation (EACPR). Eur J Prev Cardiol. 2016 Jul;23(11):NP1-NP96. doi: 10.1177/2047487316653709

Desiato VM, Levy DA, Byun YJ, Nguyen SA, Soler ZM, Schlosser RJ. The prevalence of olfactory dysfunction in the general population: a systematic review and meta-analysis. Am J Rhinol Allergy. 2021 Mar;35(2):195-205. doi: 10.1177/1945892420946254.

Frasnelli J, Lundström JN, Boyle JA, Djordjevic J, Zatorre RJ, Jones-Gotman M. Neuroanatomical correlates of olfactory performance. Exp Brain Res. 2010 Feb;201(1):1-11. doi: 10.1007/s00221-009-1999-7.

Cardella A, Ferrulli A, Vujosevic S, Preti A, Ambrogi F, Terruzzi I. et al. Olfactory dysfunction in patients with type 2 diabetes mellitus. Rhinology. 2024 Oct 1;62(5):537-547. doi: 10.4193/Rhin23.451.

Publicado

13-09-2025

Como Citar

Sousa, C., Guincho, J., Baptista, L., Correia, F., Donato, M., & Escada, P. (2025). Olfato e risco cardiovascular: uma ligação ainda por explorar. Revista Portuguesa De Otorrinolaringologia-Cirurgia De Cabeça E Pescoço, 63(3), 295–301. https://doi.org/10.34631/sporl.3114

Edição

Secção

Artigo Original