Esvaziamento ganglionar Cervical após QT/RT no IPO FGL

Autores

  • Sara Ramalho Interna do Internato Complementar de Otorrinolaringologia do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho
  • Luís Correia Oliveira Assistente Hospitalar Graduado do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil de Lisboa
  • Pedro Montalvão Assistente Hospitalar Graduado do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil de Lisboa
  • Hugo Estibeiro Assistente Hospitalar Graduado do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil de Lisboa
  • Ana Hebe Assistente Hospitalar do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil de Lisboa
  • Miguel Magalhães Diretor de Serviço do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil de Lisboa

DOI:

https://doi.org/10.34631/sporl.446

Palavras-chave:

Esvaziamento Ganglionar Cervical, oncologia, tumores da cabeça e pescoço

Resumo

Introdução: A Radioterapia (RT), associada a Quimioterapia (QT) são tratamentos propostos para muitos doentes oncológicos da área da cabeça e pescoço, sendo muitas vezes a escolha inicial, particularmente em tumores localmente avançados. A dissecção cervical seria realizada, caso necessário, se persistisse doença regional após QT/RT. A controvérsia é gerada principalmente na doença N2/N3 com resposta completa dada a difícil avaliação clínica, imagiologica e anatomo-patológica. Os defensores do esvaziamento ganglionar cervical sistemático pós QT/RT argumentam uma maior eficácia no controlo da doença regional e que uma resposta clínica não prediz necessariamente uma remissão anatomo-patológica. Por outro lado, os defensores do esvaziamento cervical apenas para doentes com evidência de doença, argumentam a baixa probabilidade de recorrência regional isolada após resposta clínica completa. A dissecção cervical sistemática apresentaria uma elevada taxa de dissecções cervicais desnecessárias, associadas a uma maior morbilidade. 

A abordagem da doença regional no IPO FGL é o esvaziamento ganglionar cervical após QT/RT se existir evidência clínica ou imagiológica de persistência de doença cervical. 

A evidência imagiológica é avaliada com recurso a TC cervical e/ou ecografia habitualmente após 6 semanas do término do tratamento de QT/RT. Mais recentemente, tem-se recorrido à PET para avaliação da resposta terapêutica. 

Objetivo: O objetivo deste trabalho é a caracterização dos doentes com tumores da cabeça e pescoço, cuja persistência clinica da doença regional após QT/RT levou a decisão cirúrgica de realização de esvaziamento ganglionar cervical para controlo da doença regional. 

Material e métodos: Foram analisados 71 processos de doentes submetidos a dissecção cervical nos anos de 2001- 2010, tendo sido excluídos os doentes cuja terapêutica inicial ou salvage envolveu cirurgia da doença local. Desta forma foram selecionados 23 doentes que realizaram QT/RT como terapêutica inicial tendo sido posteriormente submetidos a esvaziamento cervical por persistência da doença regional. 

Resultados: Dos doentes selecionados, 7 apresentaram-se com tumor primário da nasofaringe, 7 com tumor primário da amígdala, 7 da base da língua/hipofaringe e 1 com tumor primário do palato. A doença cervical foi maioritariamente avançada, nomeadamente N2/N3 em 74% dos casos. Em todos foi realizada TC para avaliação cervical após QT/RT tendo sido efetuada PET em 2 dos doentes operados. O resultado histológico dos gânglios excisados foi positivo para células neoplásicas em 83% dos doentes operados. 

Conclusão: O esvaziamento ganglionar cervical é importante no controlo da doença regional e consequente sobrevida em doentes submetidos a QT/RT por tumores da cabeça e pescoço. Os resultados obtidos são satisfatórios quanto à eficácia do follow-up pós QT/RT, resultando em cirurgia nos doentes com persistência da doença e evitando associação de morbilidade a doentes que não beneficiem de terapêutica cirúrgica.

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Como Citar

Ramalho, S., Correia Oliveira, L., Montalvão, P., Estibeiro, H., Hebe, A., & Magalhães, M. (2014). Esvaziamento ganglionar Cervical após QT/RT no IPO FGL. Revista Portuguesa De Otorrinolaringologia-Cirurgia De Cabeça E Pescoço, 52(3), 127–131. https://doi.org/10.34631/sporl.446

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Artigo Original