Entrada de Água Através do Tubo de Timpanostomia: Estudo Preliminar com recurso ao Modelo Multifásico de Dinâmica de Fluidos Computacional

Autores

  • João Brito Subtil Otorrinolaringologista, Consultor, Hospital Cuf Descobertas e Hospital de Beatriz Ângelo Investigador e doutorando da Nova Medical School e CEDOC http://orcid.org/0000-0002-8625-3214
  • Nuno Martins Investigador, Pós-doutoramento, CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
  • Teresa Nunes Neurorradiologista, Hospital da Luz, Hospital de Beatriz Ângelo
  • Dídia Covas Professora Associada, CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
  • Paulo Vera-Cruz Otorrinolaringologista, Consultor, Hospital da Luz; Investigador e Professor convidado da Nova Medical School
  • João Paço Coordenador do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital CUF Infante Santo; Professor Regente Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa

DOI:

https://doi.org/10.34631/sporl.682

Palavras-chave:

miringotomia, tubos transtimpânicos, água, cuidados pós-operatórios

Resumo

Objectivos: A miringotomia com tubos é a cirurgia otológica mais comum e na sequência da mesma a maioria dos otorrinolaringologistas recomenda empiricamente a evicção da entrada de água para os ouvidos. O principal objectivo deste trabalho é a análise do comportamento dinâmico do ar-água no interior do canal auditivo externo e do tubo transtimpânico durante a submersão.

Desenho do Estudo: Modelo multifásico de Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD)

Material e métodos: Utilizaram-se imagens de uma tomografia computorizada de ouvidos de uma criança para definir a geometria do ouvido externo e médio, posteriormente empregue para a construção de um modelo multifásico ar-água de dinâmica dos fluidos computacional (CFD). Este modelo foi usado para estudar a entrada de água e a saída de ar pela tuba auditiva.

Resultados: O modelo multifásico CFD descreve eficazmente a progressão da frente líquida no canal auditivo externo, o comportamento do ar retido e a sua saída através da tuba auditiva. Prevê, igualmente, sob que condições ambientais a água atravessa o tubo transtimpânico até ao ouvido médio.

Na simulação de elevação de pressão num canal contendo água, enquanto à superfície (sem aumento de pressão na nasofaringe), a água atravessou quase imediatamente o tubo transtimpânico.

Na simulação de submersão, com aumento paralelo de pressão na nasofaringe, a água nunca penetrou medialmente no canal, e assim, nunca observámos água através do tubo.

Verificámos deste modo que a variação da pressão na nasofaringe em paralelo com a do exterior (por vaso comunicante através da fossa nasal) dificulta a passagem de água no tubo quando em imersão

Conclusões: O que observámos no modelo está alinhado com os resultados previamente publicados pelo que o consideramos adequado para estudar o comportamento da água e do ar retido no ouvido externo e médio.

Os resultados ampliam os conhecimentos anteriores, por incluir a função de escape da tuba auditiva. Nas mesmas condições dos modelos previamente publicados (não considerando a função tubaria) os nossos resultados são concordantes com os da literatura, constatando-se passagem de água com pressão através do tubo. Contudo, em submersão e considerando a função tubária, no nosso modelo constatámos que em profundidades inferiores a 1 metro a água não atravessou o tubo. 

Biografias Autor

João Brito Subtil, Otorrinolaringologista, Consultor, Hospital Cuf Descobertas e Hospital de Beatriz Ângelo Investigador e doutorando da Nova Medical School e CEDOC

Otorrinolaringologista, consultor, Hospital Cuf Descobertas e Hospital de Beatriz Ângelo.

Investigador e Doutorando da Nova Medical School e do CEDOC

Nuno Martins, Investigador, Pós-doutoramento, CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa

Investigador do CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa

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Publicado

12-05-2018

Como Citar

Brito Subtil, J., Martins, N., Nunes, T., Covas, D., Vera-Cruz, P., & Paço, J. (2018). Entrada de Água Através do Tubo de Timpanostomia: Estudo Preliminar com recurso ao Modelo Multifásico de Dinâmica de Fluidos Computacional. Revista Portuguesa De Otorrinolaringologia-Cirurgia De Cabeça E Pescoço, 55(2), 71–79. https://doi.org/10.34631/sporl.682

Edição

Secção

Artigo Original