Surdez em São Tomé e Príncipe: Análise de 2 anos de missões humanitárias
DOI:
https://doi.org/10.34631/sporl.314Palavras-chave:
Malária, São Tomé e Príncipe, Surdez NeurossensorialResumo
Introdução: A audição é um importante sentido para a integração de um indivíduo na comunidade, por esse motivo é importante a identificação dos fatores associados à surdez. Neste trabalho propomos revelar os dados audiológicos verificados durante 2 anos de missões humanitárias de Otorrinolaringologia e a identificação de eventuais fatores de risco para a surdez.
Desenho do Estudo - Material e Métodos: Avaliámos todos os indivíduos que procuraram a consulta de audiologia no decurso das missões humanitárias em São Tomé e Príncipe de 2012 a 2014. Foram observados por um médico de otorrinolaringologia, onde para além de observação foi efetuado um questionário clínico onde foram pesquisados fatores de risco (história familiar de surdez, co-sanguinidade, história de malária clínica, terapêutica antimalárica, história gestacional e peri-parto, história otítica, história de traumatismo craniano) e realizada avaliação audiológica por um audiologista. Os dados foram processados e analisados numa base de dados da IBM SPSS 20.0.
Resultados: Dos 721 indivíduos observados, foram excluídos 77 por não conterem registo de avaliação audiológica, obtendo 644 registos clínicos para o estudo. Verificámos uma prevalência de surdez neurossensorial de 35,7%, surdez de condução de 2,9% e mista de 1,9%. Os restantes indivíduos eram normouvintes (59,5%). Destes indivíduos normouvintes, 26% eram indivíduos apenas com um ouvido ouvinte – surdez unilateral. Dos factores de risco analisados a história de malária clínica foi o único factor de risco que se revelou mais significativo.
Discussão: A prevalência de surdez na amostra avaliada foi elevada, afastando-se dos valores esperados. Numa população de um país subdesenvolvido, e de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, seria de esperar uma maior prevalência da surdez de condução e mista. No entanto, neste trabalho verificamos uma maior prevalência da surdez neurossensorial. A malária ou mesmo a terapêutica instituída no seu tratamento podem estar a contribuir para os resultados audiológicos obtidos.
Conclusão: A surdez nem sempre tem uma causa única. Existem um conjunto de fatores que ao interagirem podem desencadear o aparecimento de surdez. Neste trabalho a malária revelou ser o fator de risco mais significativo na associação com a surdez neurossensorial em São Tomé e Príncipe. Mais estudos estão a ser realizados na identificação de outros fatores de risco.
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