Surdez súbita: o que nos escapa? Surdez como única apresentação de Doença de Lyme
DOI:
https://doi.org/10.34631/sporl.53Palavras-chave:
Surdez súbita, Doença de LymeResumo
Introdução: A doença de Lyme é uma infecção multisistémica sendo a doença mais comum transmitida por carraças na América do Norte, Europa e Ásia. Descrita pela primeira vez em 1977 nos Estados Unidos e em 1989 em Portugal, tornouse doença de declaração obrigatória a partir de 1999. Com uma incidência anual de 0.04 por cada 100 000 habitantes, o distrito de Lisboa é a região com maior número de casos confirmados.
Objectivo: Os autores pretendem com este trabalho apresentar o caso clínico de uma doente, cuja única manifestação de doença de Lyme terá sido surdez súbita unilateral.
Material e métodos: Uma doente de 40 anos de idade recorreu à consulta de Otorrinolaringologia com queixas de surdez súbita no ouvido direito com 48 horas de evolução. Não apresentava nenhuma outra alteração na anamnese. Procedeu-se a investigação a laboratorial e imagiológica tendo iniciado de imediato terapêutica com corticoides, antiretrovirais e oxigenoterapia hiperbárica.
Resultados: Registou-se recuperação parcial da audição ao fim de 10 sessões de tratamento hiperbárico. Laboratorialmente confirmou-se a presença de anticorpos Ig M para Borrelia Burgdoferi e a ressonância magnética revelou labirintite do ouvido direito. Iniciou tratamento com doxiciclina com recuperação total da audição. A serologia para a Borrelia negativou e registou-se desaparecimento da labirintite na ressonância de reavaliação efectuada 5 meses após o diagnóstico.
Conclusão: A surdez súbita poderá ser a única manifestação da Doença de Lyme apesar de esta ser normalmente multisistémica. O diagnóstico e tratamento específico poderá ter evitado complicações graves da doença nomeadamente neurológicas. Torna-se, por conseguinte, pertinente considerar uma investigação diagnóstica mais detalhada nos casos de surdez súbita, de forma a detectar possíveis causas.
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