Utilidade da pHmetria orofaríngea no diagnóstico e tratamento do refluxo faringo-laríngeo
DOI:
https://doi.org/10.34631/sporl.2197Palavras-chave:
refluxo faringo-laríngeo, pHmetria orofaríngea, protocolo refluxo, diagnóstico refluxo, tratamento refluxo, refluxo ácido, refluxo não-ácidoResumo
Introdução: O refluxo faringolaríngeo é uma doença crónica com sintomatologia variável e inespecífica, responsável por até 10% das consultas de otorrinolaringologia. O seu diagnóstico e tratamento são controversos, com elevadas taxas de falência terapêutica. A pHmetria orofaríngea consiste num método de diagnóstico objetivo que permite medir alterações do pH orofaríngeo tanto líquidas como gasosas, tendo demonstrado superioridade diagnóstica em relação à a pHmetria esofágica, parecendo por isso ser um método de diagnóstico promissor.Métodos: Estudo observacional prospetivo. Trinta doentes que recorreram à consulta de otorrinolaringologia entre maio de 2022 e maio de 2023 foram referenciados para o estudo (observados por otorrinolaringologista, levantada suspeita de refluxo faringo-laríngeo e realizada a referenciação para o estudo). Preencheram os questionários Reflux Symptom Index e Voice Handicap Index-10, foram submetidos a nasofibrolaringoscopia com preenchimento do Reflux Finding Score e realizada pHmetria orofaríngea. Posteriormente cumpriram 3 meses de terapêutica com inibidor da bomba de protões (esomeprazol 40mg 2id) e foram reavaliados. Considerou-se haver resposta terapêutica se Reflux Symptom Index com melhoria ≥ 5 pontos. Com base nos resultados obtidos e consulta da literatura publicada em relação a este tema, propõe-se um protocolo de abordagem diagnóstica e terapêutica para o refluxo faringolaríngeo.
Resultados: Foram incluídos 28 doentes no estudo, 75% do género feminino, com idade µ=53,5 anos e Índice de Massa Corporal µ=28.6. Em relação à pHmetria, 63% dos doentes apresentavam refluxo ácido (15% ligeiro, 37% moderado e 11% severo), 26% refluxo não-ácido e 11% pHmetria normal. Após 3 meses de inibidor da bomba de protões, 50% dos doentes negaram ter sentido melhoria significativa dos seus sintomas. A pHmetria permitiu prever resposta a inibidor da bomba de protões em 26 dos 28 doentes (93%). A correlação dos eventos ácidos com os eventos de sintomas correlacionou-se de forma estatisticamente significativa com a resposta a inibidor da bomba de protões (p<0.01), bem como a positividade do Ryan Score (p<0.01). Nos doentes com resposta a inibidor da bomba de protões, a média de melhoria do Reflux Symptom Index foi 13,7 pontos. A sintomatologia, achados laringoscópicos e Índice de Massa Corporal tiveram relação estatisticamente significativa com o grau de refluxo ácido (ligeiro, moderado ou severo) mas não com o tipo de refluxo (ácido ou não-ácido).
Conclusão: Este estudo demonstra que a realização de pHmetria orofaríngea é um método eficaz para diferenciar refluxo faringo-laríngeo ácido e não-ácido, permitindo prever a resposta a inibidores da bomba de protões no refluxo faringo-laríngeo e adequar o tratamento desde o momento do diagnóstico ou adequar ajuste terapêutico em doentes refratários ao mesmo.
Downloads
Referências
Lechien JR, Saussez S, Muls V, Barillari MR, Chiesa-Estomba CM, Hans S. et al. Laryngopharyngeal reflux: a state-of-the-art algorithm management for primary care physicians. J Clin Med. 2020 Nov 10;9(11):3618. doi: 10.3390/jcm9113618.
Lechien JR, Bobin F, Muls V, Thill MP, Horoi M, Ostermann K. et al. Validity and reliability of the reflux symptom score. Laryngoscope. 2020 Mar;130(3):E98-E107. doi: 10.1002/lary.28017.
Wlodarczyk E, Domeracka-Kolodziej A, Miaskiewicz B, Skarzynski H, Skarzynski PH. A simple qualitative scale for diagnosis of laryngopharyngeal reflux : high correlations with pH measurements and disease severity . The usefulness of the Warsaw Scale in LPR diagnostics compared to other diagnostic tools. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2021 Dec;278(12):4883-4892. doi: 10.1007/s00405-021-06989-x.
Belafsky PC, Postma GN, Koufman JA. Validity and Reliability of the Reflux Symptom Index (RSI). J Voice. 2002 Jun;16(2):274-7. doi: 10.1016/s0892-1997(02)00097-8.
Włodarczyk E, Miaśkiewicz B, Raj-Koziak D, Szkiełkowska A, Skarzyński PH, Skarzyński H. The application of 24-hour pharyngeal pH-monitoring and Reflux Finding Score and Reflux Symptom Index questionnaires in the diagnostics of laryngopharyngeal reflux. Prz Gastroenterol. 2019;14(4):274-282. doi: 10.5114/pg.2019.90253.
Guimarães I, Batista AP, Quintal A, Bom R, Romeiro C, Saraiva M. et al. The reflux symptom score-12: cross-cultural adaptation and validation for european portuguese speakers with laryngopharyngeal reflux. J Voice. 2023 Jul 29:S0892-1997(23)00190-X. doi: 10.1016/j.jvoice.2023.06.016.
Guimarães I, Abberton E. An investigation of the Voice Handicap Index with Speakers of Portuguese: preliminary data. J Voice. 2004 Mar;18(1):71-82. doi: 10.1016/j.jvoice.2003.07.002.
Eckley CA, Tangerina R. Sensitivity, specificity, and reproducibility of the Brazilian Portuguese Version of the Reflux Symptom Index. J Voice. 2021 Jan;35(1):161.e15-161.e19. doi: 10.1016/j.jvoice.2019.08.012
Lechien JR, Rodriguez Ruiz A, Dequanter D, Bobin F, Mouawad F, Muls V. et al. Validity and reliability of the reflux sign assessment. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2020 Apr;129(4):313-325. doi: 10.1177/0003489419888947.
Becker V, Graf S, Schlag C, Schuster T, Feussner H, Schmid RM. et al. First agreement analysis and day-to-day comparison of pharyngeal pH monitoring with pH/impedance monitoring in patients with suspected laryngopharyngeal reflux. J Gastrointest Surg. 2012 Jun;16(6):1096-101. doi: 10.1007/s11605-012-1866-x.
Vailati C, Mazzoleni G, Bondi S, Bussi M, Testoni PA, Passaretti S. Oropharyngeal pH monitoring for laryngopharyngeal reflux: is it a reliable test before therapy? J Voice. 2013 Jan;27(1):84-9. doi: 10.1016/j.jvoice.2012.08.006.
Lechien JR, Chan WW, Akst LM, Hoppo T, Jobe BA, Chiesa-Estomba CM. et al. Normative ambulatory reflux monitoring metrics for laryngopharyngeal reflux: a systematic review of 720 healthy individuals. Otolaryngol Head Neck Surg. 2022 May;166(5):802-819. doi: 10.1177/01945998211029831.
Plocek A, Gębora-Kowalska B, Białek J, Fendler W, Toporowska-Kowalska E. Esophageal impedance-pH monitoring and pharyngeal pH monitoring in the diagnosis of extraesophageal reflux in children. Gastroenterol Res Pract. 2019 Mar 3:2019:6271910. doi: 10.1155/2019/6271910.
Calvo-Henríquez C, Ruano-Ravina A, Vaamonde P, Martínez-Capoccioni G, Martín-Martín C. Is pepsin a reliable marker of laryngopharyngeal reflux? A systematic review. Otolaryngol Head Neck Surg. 2017 Sep;157(3):385-391. doi: 10.1177/0194599817709430
Lin Y, Peng S. Current treatment of laryngopharyngeal reflux. Ear Nose Throat J. 2023 Jun 9:1455613231180031. doi: 10.1177/01455613231180031.
Eubanks TR, Omelanczuk PE, Maronian N, Hillel A, Pope CE 2nd, Pellegrini CA. Pharyngeal pH monitoring in 222 patients with suspected laryngeal reflux. Gastrointest Surg. 2001 Mar-Apr;5(2):183-90; discussion 190-1. doi: 10.1016/s1091-255x(01)80032-9
Martinucci I, de Bortoli N, Savarino E, Nacci A, Romeo SO, Bellini M. et al. Optimal treatment of laryngopharyngeal reflux disease. Ther Adv Chronic Dis. 2013 Nov;4(6):287-301. doi: 10.1177/2040622313503485.
Slater BJ, Dirks RC, McKinley SK, Ansari MT, Kohn GP, Thosani N. et al. SAGES guidelines for the surgical treatment of gastroesophageal reflux (GERD). Surg Endosc. 2021 Sep;35(9):4903-4917. doi: 10.1007/s00464-021-08625-5.
Pisegna JM, Yang S, Purcell A, Rubio A. A mixed-methods study of patient views on reflux symptoms and medication routines. J Voice. 2017 May;31(3):381.e15-381.e25. doi: 10.1016/j.jvoice.2016.06.024.
Lechien JR. Treating and managing laryngopharyngeal reflux disease in the over 65s: evidence to date. Clin Interv Aging. 2022 Nov 15:17:1625-1633. doi: 10.2147/CIA.S371992
Eubanks TR, Omelanczuk P, Hillel A, Maronian N, Pope CE, Pellegrini CA. Pharyngeal pH measurements in patients with respiratory symptoms before and during proton pump inhibitor therapy. Am J Surg. 2001 May;181(5):466-70. doi: 10.1016/s0002-9610(01)00597-9.
Pizzorni N, Ambrogi F, Eplite A, Rama S, Robotti C, Lechien J. et al. Magnesium alginate versus proton pump inhibitors for the treatment of laryngopharyngeal reflux: a non-inferiority randomized controlled trial. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2022 May;279(5):2533-2542. doi: 10.1007/s00405-021-07219-0
Karkos PD, Belafsky PC. Review article: nonsurgical treatment of non-acid reflux. Aliment Pharmacol Ther. 2011;33(SUPPL. 1):66-70. doi:10.1111/j.1365-2036.2011.4581.x
Di Simone MP, Baldi F, Vasina V, Scorrano F, Bacci ML, Ferrieri Aet al. Barrier effect of Esoxx® on esophageal mucosal damage: experimental study on ex-vivo swine model. Clin Exp Gastroenterol. 2012:5:103-7. doi: 10.2147/CEG.S31404
Palmieri B, Merighi A, Corbascio D, Rottigni V, Fistetto G, Esposito A. Fixed combination of hyaluronic acid and chondroitin-sulphate oral formulation in a randomized double blind, placebo controlled study for the treatment of symptoms in patients with non-erosive gastroesophageal reflux. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2013 Dec;17(24):3272-8.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Sofia Sousa Teles, Lília Ferraria, Catarina Areias, Mariana Neto, Rafael Pires, Ana Miguel Couto, Luís Antunes

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0.